Fogos de artifícios: brinquedo ou arma de fogo?

Perigosos artefatos que causam danos incalculáveis aos animais, aos humanos e ao meio ambiente

Foi do Chile que vieram bons ventos trazendo amores e notícias de civilidade. Uma amiga, que conheceu o companheiro da sua vida durante uma viagem ao país, casou-se e mudou para lá, me contou que fogos são proibidos naquele país.

Como assim? Perguntei incrédula.

O Chile considera os fogos de artificio como armas de fogo e eles são permitidos apenas em espetáculos pirotécnicos, organizados sob licença especial, que implica diversas condições.

O Brasil, por sua vez, é o segundo produtor mundial de fogos de artifício. Aqui a fabricação, o comércio e o uso desses artefatos são regulados pelo Decreto R-105, de responsabilidade do Ministério do Exército. O Decreto citado delega a fiscalização desses produtos, em especial de fogos de artifício e de estampido, às Secretarias de Segurança Pública e Corpos de Bombeiros.

Segundo uma análise do assunto sob a ótica penal, escrita por Nelmon J. Silva Jr., a legislação apresenta algumas incoerências. Entre elas estaria a permissão de venda de algumas classes de fogos (A e B) para menores de idade, o que seria contraditório com o estatuto da criança e do adolescente. Outra questão estaria relacionada à aplicação da lei penal, “pois cada Secretaria de Segurança Pública tem suas próprias Resoluções, não raras vezes contrárias ao texto do R-105”.

Em alguns municípios, como Campinas/SP, há proibição da soltura de fogos, mas, ainda assim, algumas pessoas insistem em usá-los.

Alguns danos provocados pelos fogos de artifício

Homem:

Segundo a Associação Brasileira de Cirurgia da Mão (ABCM), as pessoas mais atingidas por acidentes com fogos de artifícios são homens com idades entre 15 e 50 anos e crianças de 4 a 14 anos. O seu uso pode provocar:

– queimaduras (70% dos casos);

– lesões com lacerações, cortes (20% dos casos), inclusive as de córnea ou perda da visão e lesões do pavilhão auditivo ou perda da audição;

– amputações dos membros superiores (10% dos casos).

Uma rápida pesquisa no Google mostra as mais variadas e chocantes fotografias de acidentes pelo seu uso. Segundo dados do Ministério da Saúde, no período entre 1996 e 2009, 122 pessoas morreram por conta de acidentes envolvendo os fogos de artifício.

Doentes e convalescentes padecem com a soltura de fogos. Pessoas com doenças mentais podem ficar incontroláveis.

– Alguns acidentes famosos:

A tragédia na Boate Kiss, de Santa Maria/RS, na qual o uso de um artefato pirotécnico, associado a outras condições, desencadeou a morte de 239 pessoas;
A partida de futebol na Bolívia, em que o uso de um sinalizador matou um adolescente;
A morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade;
Diversos acidentes com mortes em fábricas dos artefatos localizadas em Minas Gerais.

Animais domésticos

Os nossos animais, por terem a audição mais sensível, são especialmente atingidos pelo barulho. Entre os perigos dos fogos para eles, podemos citar:

– fugas

– ferimentos graves

– ataques cardíacos

– traumas

– mutilações

– convulsões

– quedas de andares altos

– atropelamentos

– enforcamentos

– taquicardia, salivação e tremores.

Os animais de rua são ainda mais expostos a estes perigos, pois ficam totalmente desprotegidos durante as queimas de fogos.

Pássaros

Diversos casos de mortes massivas de pássaros foram relatados ao redor do mundo nos últimos anos, sendo que alguns deles foram associados a explosões de fogos de artifícios. A hipótese levantada foi que o barulho teria desorientado os pássaros, que teriam alterado o padrão de voo, chocando-se contra prédios e outros obstáculos.

Jacú atingido por fogo de artifício na região da Serra dos Cocais/SP. Foi socorrido, mas não sobreviveu

O “barulho” provocado pelos chamados fogos silenciosos, aqueles brilhantes e coloridos, também é ouvido pelos pássaros, podendo, da mesma forma, causar desorientação e acidentes. Assim como o barulho, a luminosidade intensa pode fazer com que eles abandonem seus ninhos e filhotes.

Meio ambiente

Os fogos de artificio são uma das causas mais comuns de poluição na atmosfera, tornando-a repleta de metais pesados. Dependendo do efeito pretendido, eles produzem fumaça e poeira carregadas de metais, compostos de enxofre, carvão e outros produtos químicos nocivos:

– Bário – é usado, por exemplo, para produzir cores brilhantes verdes, é venenoso e radioativo.

– Compostos de cobre – são utilizados para produzir as cores azuis, contêm dioxinas, que têm sido associadas ao cancro.

– Cádmio, lítio, antimónio, rubídio, estrôncio, chumbo e de nitrato de potássio – também utilizados para produzir efeitos diferentes, podem causar uma série de doenças respiratórias e outros problemas de saúde.

Os produtos químicos e metais pesados usados em fogos de artifício também têm o seu preço sobre o meio ambiente, às vezes contribuindo para a contaminação de abastecimento de água e até mesmo chuva ácida. Seu uso também provoca depósito de lixo físico no solo e em lençóis freáticos.

Não estaria, então, passada a hora de contribuirmos para um mundo melhor com um pequeno gesto de repúdio ao uso dos fogos?

Basta que cada um de nós não faça uso, divulgue seus malefícios, e se recuse a frequentar espetáculos que façam uso deles, pedindo que usem métodos alternativos, pois é o somatório de pessoas conscientes que constrói um país consciente.

Nada contra a celebração da alegria, mas pessoas civilizadas deveriam manifestar-se de maneira civilizada, sem deixar um rastro de destruição na terra.

Está feliz? O seu time ganhou? Um novo ano chegou?

Dê um abraço em que está ao seu lado!

Ofereça uma flor a uma pessoa querida!

Dê um sorriso a um desconhecido!

E, com isso, plante uma semente para um mundo melhor.

Para saber mais:

Animais de estimação

http://www.resgatinhos.com.br/pets-x-fogos-de-artificio-2/

http://www.anda.jor.br/16/05/2010/instituto-nina-rosa-alerta-sobre-os-danos-causados-aos-animais-pelos-fogos-de-artificio

Acidentes

http://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2014/07/producao-de-fogos-de-artificio-em-mg-tem-historico-de-mortes.html

http://repositorio.chlc.min-saude.pt/bitstream/10400.17/1162/1/Acta%20Med%20Port%201998_11_965.pdf