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Doença periodontal felina

Como se formam a inflamação da gengiva e o tártaro na boca do gato

Este texto foi escrito com a contribuição da Dra. Michèle Venturini.¹

A doença periodontal é uma das alterações clínicas mais comuns em gatos adultos e, mesmo assim, a procura por tratamento costuma acontecer com a doença já avançada. Isso ocorre, geralmente, pela manifestação tardia de sinais por parte dos gatos e também pela falta de informação dos proprietários.

Essa condição, que causa grande desconforto, pode resultar em perda de múltiplos dentes, e ainda contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de outras doenças. Mais comum em animais idosos, a doença periodontal atinge aproximadamente 85% dos gatos acima de 2 anos, mas até mesmo gatos mais jovens podem ser acometidos pela condição.

Na medicina humana, a relação estreita da doença periodontal com outras enfermidades — e o seu mecanismo de ação — tem sido cada vez mais pesquisada, e essa vem se tornando uma preocupação cada vez mais recorrente na medicina veterinária.

Nos felinos, as doenças virais — calicivírus felino, panleucopenia felina, herpes vírus, FIV (aids felina), FeLV (leucemia felina) — podem provocar ou agravar a doença periodontal. Já as doenças sistêmicas — diabetes, doença renal crônica, doença cardíaca, problemas nutricionais, entre outras — podem causar ou agravar a doença periodontal, que também podem ter o seu quadro piorado pelas sistêmicas.

Como se instala a doença periodontal?

A doença periodontal é um processo inflamatório que se inicia com a gengivite e evolui para a periodontite, caso não seja tratada no momento certo, e progride da seguinte forma:

Tabela

Embora sempre presente nesse estágio da doença, a dor não é demonstrada pelo paciente, pois, mestres em escondê-las, os gatos comem normalmente e não choram de dor. O animal só deixa de comer quando está realmente com muita dor!

Proprietários que afirmam na primeira consulta que o gato não sente dor, geralmente, mudam o relato no retorno após o tratamento, dizendo que o gato sentia dor sim antes do procedimento porque, depois dele, mudou de comportamento, comendo melhor, se lavando mais, brincando e socializando com mais disposição.

Na fase da periodontite, além da dor e do cheiro forte na boca, as toxinas produzidas pela infecção podem ir para a circulação sanguínea e acometer outros órgãos, causando ou piorando doenças sistêmicas.

Boca de felino saudável, sem sinais de acúmulo de cálculo, gengivite ou periodontite. Fotografia: Odontovet.
Gengivite
Boca de felino apresentando acúmulo de cálculo grau III e gengivite (início da doença periodontal). Nesta fase, os danos ainda são reversíveis. Fotografia: Odontovet.
Doença periodontal
Boca de felino apresentando acúmulo de cálculo e doença periodontal avançada. Nesta fase, o comprometimento das estruturas é irreversível sendo normalmente necessária a extração dos dentes. Fotografia: Odontovet.

Sintomas

  • Mau hálito
  • Gengivas vermelhas, doloridas e inchadas
  • Sangramentos
  • Mudança nos padrões de alimentação do gato
  • Perda de peso
  • Sinais de falta de higiene: o gato não se lava
  • Salivação

Importante ressaltar que o mau hálito, ou halitose, é o primeiro sinal de que alguma coisa não está boa na cavidade oral. Na fase de gengivite, que é a reversível e na qual o tratamento já é indicado (profilaxia, ou prevenção), já existe um “bafinho”. Quando o paciente apresenta um grande mau hálito, ou um “bafão”, com certeza ele já tem doença periodontal e muitas vezes nada pode ser feito para salvar o dente.

Prevenção

Uma boa higiene bucal feita em casa, com escovação e higienização, pode retardar ou até mesmo evitar o desenvolvimento da doença.

Contudo, essa higiene só deve ser feita antes que o gato apresente qualquer fase da doença periodontal. Iniciar uma escovação ou higienização quando o animal já apresenta gengivite ou periodontite causará dor, porque os tecidos estão inflamados. Além de não ajudar na regressão da doença.

Nesses casos, o ideal é primeiro fazer o tratamento, preferencialmente com um especialista, para, então, começar a higienização.

Tratamento

Uma vez que haja sinais da gengivite ou da periodontite, o tratamento consiste em limpeza feita pelo veterinário, com o gato anestesiado.

Antes do tratamento, o veterinário solicitará exames pré-operatórios para que o procedimento seja feito com segurança. Esses exames podem variar de acordo com a conduta de cada profissional, mas costumam ser solicitados:

  • Exames de sangue: perfil renal e hepático, hemograma.
  • Exame de imagem: ecocardiograma.

Durante o tratamento o veterinário provavelmente fará radiografias de todos os dentes para avaliar a extensão das lesões e decidir o melhor curso de tratamento. Dentes afetados pela periodontite podem precisar de extração.

Deve ficar claro que, se realmente houver necessidade da extração de um dente, ou mesmo de vários, isso será um alívio para o paciente, pois ele não terá mais dor e se adaptará muito bem. A ausência de um ou vários dentes no gato não comprometerá a sua qualidade de vida, ao contrário, remover dentes com doença periodontal traz conforto e bem-estar ao paciente.

Portanto, a única forma saudável de evitar a extração de dentes é prevenir a doença periodontal. Se as pessoas passarem a procurar tratamento precoce, assim que o gato apresentar um “bafinho”, certamente teremos gatos envelhecendo com mais dentes na boca!

Durante o tratamento, é possível que o veterinário encontre dentes com fratura e exposição da polpa (nervo do dente), condição na qual há indicação do tratamento de canal como forma de preservar o dente, eliminando uma fonte de dor para o animal.

A critério do veterinário, e dependendo do caso, podem ser prescritos antibióticos após o tratamento.

Manutenção após o tratamento

A recomendação pode variar de acordo com o profissional responsável pelo caso, mas, geralmente, consiste em:

  • Escovação dos dentes diariamente ou, pelo menos, 3 vezes por semana.
  • Dietas especiais e tratamentos complementares, que podem ajudar no controle.
  • Retornos periódicos para avaliação do veterinário.
  • Limpezas anuais, que também podem ser recomendadas.

 

¹.Cirurgiã dentista e médica veterinária especializada em odontologia. Membro da Associação de Odontologia Veterinária (A.B.O.V). Fundadora e sócia-proprietária do Odontovet – Centro Odontológico Veterinário (http://odontovet.com/).


Artigos consultados:
MI Kouki, DVM, MSC; SA Papamiditriou, DVC, DDS, PhD; GM Kazkos, DVM, PhD; I Savas, DVM, PhD, D Bitchava, DVM. Periodontal disease as a potencial factor for systemic inflammatory response in the dog J VET DENT. vol. 30, no. 1, p. 26-29, Spring 2013.
NIEMIEC, BA. Periodontal disease. Top Companion Anim Med. 2008 May;23(2):72-80. doi: 10.1053/j.tcam.2008.02.003. PMID: 18482707 [PubMed – indexed for MEDLINE]
RAWLISON, Jennifer. The systemic impact of periodontal disease. SCIVAC International Congress, Rimini, Italy, p. 396-397, 2012.

Sites pesquisados:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24006716 – J Vet Dent. 2013 Summer;30(2):78-83
http://www.avdc.org/periodontaldisease.html
http://www.petmd.com/cat/conditions/mouth/c_ct_periodontal_disease
http://www.cathospitalofchicago.com/online-cat-health-library/dental-disease-in-cats
http://www.saliva.com.br/saliva/periodontia/periosis

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