Madrugada de segunda-feira de carnaval e a insônia vem me visitar, como faz com alguma frequência. Enquanto eu tento conciliar as nossas diferenças, assisto à reprise de um episódio da minha série de televisão favorita: The walking dead.
Quando, finalmente, eu pareço ter vencido a batalha com a amiga constante, ouço o barulho de um gato vomitando. Como sempre faço para dar conta de identificar alterações no bando de peludos, corro e vejo que o Pezinho, o meu pretinho já grisalho com os seus 17 anos, é o autor do barulho. Limpo o vômito e o observo indo para a bandeja no banheiro ao lado.
Sigo o gato, vejo-o fazendo força e um turbilhão de dúvidas começa a povoar os meus pensamentos. Seria xixi ou seria cocô? Pânico: ele tem cálculos urinários em um dos rins. Estariam eles migrando do rim para o ureter? E se fosse uma obstrução? Mas, se fosse uma obstrução no ureter ele faria força ou os sinais surgiriam somente quando o agravamento já tivesse avançado? Como identificar precisamente se um gato faz força para defecar ou urinar, já que, nesses casos, as posições podem se assemelhar?
Lembro-me, então, de quando a branquinha Clarissa teve um cálculo enorme na bexiga. Eu a levei ao veterinário porque estava com diarreia. Ele me pediu um ultrassom e foi assim que nós soubemos sobre o cálculo. O veterinário me explicou que a força para expelir aquela pedra incômoda fazia com fossem eliminadas fezes que ainda não estavam prontas para sair e, por isso, a consistência era pastosa. Feita a cirurgia para retirar aquele imenso oxalato de cálcio, a minha branquela nunca mais teve fezes pastosas.
Bom, voltando ao Pezinho, ele continua inquieto, andando de um lado a outro, hora fazendo força em pé, hora deitado, porque acaba perdendo o equilíbrio facilmente, já que tem só uma pata traseira.
E vomita mais duas vezes.
O que eu poderia fazer às 2 da manhã? Após observar mais um pouco e perceber um pedacinho de fezes aparecendo no ânus do gato, eu optei por colocar um supositório neutro, cuja orientação de uso eu já havia recebido para casos de prisão de ventre.
A próxima ida dele à bandeja sanitária e a visita ao veterinário nos dias que seguiram confirmaram que o Pezinho estava mesmo constipado, condição bastante comum a gatos idosos e que pode ser controlada com o manejo adequado.
Mas, na verdade, este texto surgiu da vontade de dizer o quanto me emocionou ver a mudança de comportamento daquele gatinho grisalho e indefeso, que havia se sentido mal por longos minutos, ao subir na cama e recostar-se ao meu lado com o semblante tranquilo e o ronronar de agradecimento, mesmo depois de eu ter colocado o supositório e limpado o seu bumbum.
Sempre me toca profundamente quando vejo nos gatos atitudes ou comportamentos que comprovam o que eu já sei tão bem: que os gatos são seres frágeis e que dependem de nós.
E, ainda assim, são, muitas vezes, menosprezados, maltratados e usados como bode expiatório pela falta informação e pelas más atitudes dos seres humanos.
Emocionante seu texto. Tenho 20 gatos na minha casa e eu observo todos eles. Tenho um gato de 12 anos que teve cálculos na bexiga. O veterinário fez cirurgia e retirou todos os cálculos. Desobstruiu o canal urinário e fez mais três cirurgias, e em todas teve que usar sonda. Fico grata a Deus por ele estar ainda lutando! Amo-os demias!
Olá, Lina. Precisamos mesmo estar sempre atentos, porque eles escondem muito bem qualquer desconforto. Eu fico feliz que o seu gatinho seja forte e esteja lutando contra os cálculos. Essa é uma luta bem difícil. Boa sorte para vocês.