As últimas semanas foram de festa para a imprensa sensacionalista propagar inverdades sobre a prevalência de toxoplasmose em gatos e a sua transmissão para humanos. Alguns citaram até artigos científicos que sequer apresentam “gato” como palavra chave.
Em reposta à quase histeria, foi publicada entrevista (texto a seguir traduzido livremente) com uma cientista da Whashington State University, a veterinária parasitologista Heather Fritz, que também posou para uma bela fotografia, com a sua barriga de 9 meses de gravidez e o seu gato no colo (https://news.wsu.edu/wp-content/uploads/2015/05/heather-w-Phil-cat-web.jpg).
Com o título “Parasite not cat-astrophic, says WSU resarcher”, a veterinária inicia lembrando que a menção ao “Toxoplasma gondii” provoca em algumas pessoas apenas um olhar vazio, enquanto outras culpam um gato.
Segundo ela, o astuto parasita infecta um terço da população mundial e é mais provável de ser disseminado pelo consumo de carne malpassada do que pelo ato de acariciar um felino.
Apesar de muitas pessoas nunca terem ouvido falar do toxoplasma e da doença que ele causa, o protozoário é muito comum, diz a pesquisadora. Para as pessoas que alegam que os gatos são bombas móveis de infecção, a especialista no T.gondii diz: “esse, simplesmente, não é o caso”.
O Toxloplasma não só é encontrado em aproximadamente 60 milhões de americanos, mas também é capaz de infectar quase todos os animais de sangue quente do planeta.
A pesquisadora diz que esse é um parasita que pode ser considerado bem-sucedido, e procura encontrar os segredos deste sucesso, na esperança de desenvolver caminhos que controlem a propagação da doença no meio ambiente.
Os bigodes são perigosos?
A toxoplasmose causa poucos sintomas na maioria das pessoas saudáveis, isso quando causa algum, mas pode ser perigosa para pessoas com sistema imunológico fraco e para gestantes, que podem transmiti-la para os fetos. Nos casos mais graves, esses fetos podem sofrer com cegueira, dano cerebral, demência e até mesmo morte.
Segundo a pesquisadora, sim, os gatos infectados excretam parasitas nas suas fezes, mas as chances de que o patógeno seja transmitido aos humanos são menores do que a maioria das pessoas é levada a acreditar pelas matérias da imprensa sensacionalista.
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Amantes de gatos, respirem fundo! Não há necessidade de mandar os bigodes para outra casa, afirma a pesquisadora.
As pessoas têm maiores chances de contrair toxoplasmose bebendo água contaminada ou comendo carne contaminada crua ou malpassada do que diretamente do próprio gato, principalmente se o peludo não tiver acesso à rua.
Embora o parasita seja encontrado em todos os tipos de aves e mamíferos, há apenas um lugar onde ele pode se reproduzir sexualmente: dentro do intestino do gato – seja um tigrado, uma tricolor ou um puma – basta que seja membro da família Felidae.
Tipicamente, os gatos adquirem toxoplasmose de roedores e pássaros infectados, quando caçam e comem a presa. Uma vez dentro do intestino, o parasita produz milhões de cistos parecidos com ovos chamados oocistos, que são excretados pelas fezes.
Quando excretados por gatos no meio ambiente, os oocistos podem sobreviver por vários meses no solo e na água. A partir daí, o parasita infecta animais como roedores, ovelhas ou porcos que são alimentados no chão. Para gatos que não têm acesso à rua, a não ser que ele cace um rato dentro de casa, é praticamente impossível contrair o parasita.
Supondo que o gato tenha acesso à rua e contraia o parasita de um roedor contaminado, “o gato irá excretar os oocistos nas fezes apenas por volta de 3 semanas – e tipicamente apenas uma única vez durante toda a sua vida”, ela explica.
Então, não jogue o seu gato junto com a areia sanitária. Em vez disso, pratique boa higiene, manuseando carnes apropriadamente, limpando a caixa de areia com frequência e usando luvas ao fazê-lo.
Parasita manipulador
Inúmeros gatos domésticos e felinos selvagens vagam pela terra, mas só isso não explica por que aproximadamente 2 bilhões de pessoas no mundo todo estejam infectadas com a toxoplasmose.
Estudos mostram que o toxoplasma faz ratos infectados perder o medo dos gatos, o que torna mais fácil com que sejam caçados e comidos por eles.
“Isso se refere ao organismo ser tão bem sucedido”, disse Fritz. “Ele é capaz de invadir quase todo tipo de célula, de provavelmente todo tipo de animal de sangue quente. Até mesmo as lontras marinhas podem contraí-lo” ela disse, apontando que o parasita conseguiu chegar ao oceano.
Em parte, o que faz esse protozoário tão bem sucedido é que uma vez dentro do hospedeiro, ele se espalha rapidamente, manipulando o próprio grupo de células que deveria matá-lo. Como se estivesse pegando uma carona em táxis, o parasita “na verdade, usa as células do sistema imunológico para viajar pelo corpo”.
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A íntegra da entrevista original pode ser encontrada em: https://news.wsu.edu/2015/05/19/parasite-not-cat-astrophic-says-wsu-researcher/#.VX7hkTrbLIV.