Cuidando de gatos idosos

4 passos para entender e valorizar a vida do gato idoso *

Gatos idosos são muito especiais: eles ficam ainda mais companheiros e carinhosos. Mesmo aqueles que não eram próximos de nós anteriormente rendem-se, e ficam viciados em cafunés e afagos.

Por outro lado, há algumas mudanças inerentes à idade, como redução de atividade, possíveis limitações e, também, alguns eventuais problemas de saúde, aos quais precisamos estar atentos. Toda mudança de comportamento deve ser vista como um sinal potencial de problema, investigada e, se comprovada alguma patologia, tratada pelo veterinário. Essas alterações também podem pedir algumas adaptações na nossa casa, para deixar a vida do bichano mais fácil e confortável. Mas a recompensa por vê-lo fazendo coisas que já não poderia sem a nossa ajuda é um sentimento realmente extraordinário.

1. Com que idade o gato se torna idoso?

Não há consenso sobre a idade exata em que o gato pode ser considerado idoso. Alguns dizem que isso pode acontecer a partir de 7 anos, outros depois dos 10 anos.

Embora não exista uma equivalência simples ou consensual relacionando a idade felina à humana, alguns cálculos podem ajudar a transpor a idade do gato para a realidade humana. Uma dessas comparações é apresentada no quadro abaixo:

2. Identificando as mudanças

Gatos idosos podem ter desde pouquíssimos a diversos tipos de limitação. Isso depende de uma soma de fatores que incluem genética, passado (sequelas de traumas ou doenças, tipo de alimentação, acúmulo de estresse, etc.), doenças atuais, entre outros. O primeiro passo é identificar as mudanças, caracterizar as limitações e entender quais providências podem ser tomadas.

Por exemplo:

• Gatos com problemas articulares podem ter dificuldade para andar, alcançar lugares altos, como uma janela ou cama favorita.
• Problemas para usar a caixa de areia:
  • Por não conseguir entrar nela.
  • Por não ter os movimentos intestinais necessários para defecar.
  • Por não conseguir ficar na posição normal para urinar ou defecar.
• Gatos que sofrem com perda de audição tipicamente dormem muito profundamente e, como resultado, não recebem do cérebro a mensagem que precisam urinar, podendo ter problemas para chegar à caixa de areia em tempo. Eles também podem se assustar com mais facilidade.
• Gatos cegos precisam de um tempo até formar um mapa mental da casa.

 3. Quais os problemas de saúde mais comuns nos gatos idosos?

 Doenças crônicas podem surgir em qualquer idade, mas é na velhice que elas são mais comuns, e podem várias ocorrer concomitantemente. Quando receber um diagnóstico de qualquer doença, mantenha a calma e converse com o veterinário sobre as opções de tratamento. Com a(s) doença (s) bem manejada (s), o gato pode viver bem durante bastante tempo. Considere também tratamentos alternativos, que podem ser um valioso complemento.

Os problemas mais comuns são:

• Alterações cognitivas

  

• Artrite
• Audição – diminuição ou perda
• Boca – problemas odontológicos
• Câncer
• Constipação
• Diabetes
• Doença inflamatória intestinal
• Doença renal crônica
• Emagrecimento
• Fígado – colangite e outros problemas
• Hipertensão
• Hipertireoidismo
• Obesidade – pode se agravar com a diminuição de atividade e também agravar outras condições
• Pele – problemas dermatológicos e/ou diminuição da higienização
• Trato urinário – alterações
• Visão – diminuição, perda e outros problemas oftalmológicos (veja também os posts sobre hipertensão, retinopatia hipertensiva, melanoma ocular e como cuidar de um gato cego)

Para saber como acompanhar a saúde do seu gato, pergunte ao veterinário qual a melhor frequência para que o bichano seja examinado. Além disso, fique atento a quaisquer sintomas ou alterações de comportamento. Veja os nossos posts sobre sintomas, e procure o veterinário se identificar algum deles ou se tiver qualquer dúvida.

 4. Manejo do felino idoso

Entendendo as limitações do gato, podemos proporciona-lhe bem-estar e até mesmo maior longevidade com simples alterações de manejo.

• Acesso
  • De forma geral, mas, principalmente, se o gato apresentar redução da audição, da visão, ou da mobilidade, certifique-se que o caminho até os seus recursos básicos (alimento, água, caixa de areia, arranhador, cama preferida, etc) está livre de obstáculos.
  • Evite mudar objetos de lugar. Se for inevitável, faça a mudança gradualmente, arrastando o objeto um pouco por vez.
  • Providence degraus para que ele possa subir nos seus lugares favoritos.
  • Bloqueie o acesso a lugares perigosos.
• Água e comida
  • O padrão de ingestão de água e comida pode mudar com o avanço da idade. Se isso parecer um problema, ou, se tiver dúvidas, peça orientação ao veterinário.
  • Certifique-se de que os potes de água e de comida são de fácil acesso ao gato.
  • Aqueça a comida. Alguns gatos mais velhos ou doentes podem comer melhor com a comida morna, pois a temperatura realça o aroma.
  • Considere a elevação dos potes de água e comida (faça um teste para ver se isso facilidade a vida do gato)
• Exercícios são importantes para gatos de qualquer idade, inclusive para os idosos, melhorando ou prevenindo diversas condições de saúde.
  • Uma opção que pode ser interessante para o gato movimentar-se é arrastar um fio, o “pássaro” ou o “ratinho” de uma varinha, ou algum outro brinquedo pelo chão, fazendo com que ele ande atrás da “isca”, mas sem pular.
  • Antes de iniciar qualquer atividade, pergunte ao veterinário sobre que tipos de brincadeiras são seguros.
• Caixa de areia
  • Aumente a quantidade de caixas, colocando-as em pontos diferentes e estratégicos da casa, de forma que o gato não precise andar muito para usá-las.
  • Se a caixa de areia que você usa for alta, tente trocá-la por uma mais baixa ou colocar um degrau do lado de fora.
  • Veja as recomendações sobre
• Check-ups Pergunte para o veterinário qual a frequência necessária de consultas e exames para o seu gato.
• Gato indoor. O acesso à rua deve ser proibido para gatos de qualquer idade, e isso é especialmente importante para os velhinhos.
• Hábito de arranhar. Arranhar é uma atividade importante para os gatos, mesmo na idade madura. Se o seu bichano tiver dificuldade em usar um arranhador vertical, coloque um horizontal.

  

• Hábitos de higiene. Gatos idosos podem não cuidar da própria higiene de maneira tão eficiente como costumavam fazer. Mas é fácil ajudá-los:
  • Escove o gato regularmente, aproveitando a oportunidade para checar eventual presença de nódulos.
  • Lembre-se de que a escovação deve ser feita de maneira gentil, pois o gato idoso pode ter dores articulares, e ser mais sensível ao toque, devido à perda de massa muscular.
  • Gatos de pelos longos podem ficar com fezes ou urina nos pelos perto da região genital, por não conseguir se lavar. A tosa higiênica, a limpeza com gaze umedecida em água com algumas gotas de vinagre branco e uma escovação para remoção dos pelos mortos podem ajudar.
• Interação. Mesmo um gato dorminhoco gosta de interação com o seu humano de estimação. Reserve um tempo diário para um encontro especial com o seu velhinho. Mesmo que você não tenha muita disponibilidade de tempo, aproveite alguns minutos enquanto assiste a televisão ou conversa com a família.

  

  • Uma boa dica é a escovação, com o objetivo de enriquecimento social, usando uma escova de cerdas macias. Saiba como fazer lendo o post sobre o assunto.
  • Converse com o gato, porque ele sente as boas energias das nossas palavras. Mesmo que ele seja surdo, um bom papo, acompanhado de um carinho será percebido positivamente.
  • Aproxime-se com cuidado (com sons e toques suaves) de gatos que estejam distraídos ou dormindo, especialmente se forem cegos ou surdos.
  • Respeite as mudanças de hábitos do gato.
• Mudança de humor. É possível que gatos idosos fiquem menos pacientes, mas reações irritadiças devem ser investigadas, pois podem estar relacionadas à dor ou a algum outro tipo de desconforto.
• Problemas cognitivos.
  • Não é incomum que gatos com problemas cognitivos miem durante a noite, quando a casa se torna quieta e escura. Procure deixar algumas luzes acesas, especialmente perto das caixas de areia, potes de comida e lugares onde o seu bichano gosta de dormir.
  • Se o gato parecer desorientado ou apresentar vocalização, chame-o pelo nome para que ele saiba que você está por perto.
  • Dependendo do grau de desorientação, considere levá-lo para dormir com você.
• Relacionamento com outros animais. Observe eventuais problemas de relacionamento com os outros gatos ou cães da casa, caso os tenha. Felinos idosos não precisam de causas extras de estresse. Se notar problemas, procure entender o que está acontecendo e providencie um ambiente seguro para o gato.
• Seja paciente. Assim como acontece conosco, as dificuldades trazidas pela idade podem fazer com que o gato faça coisas que não eram normais: errar a caixa de areia, derrubar comida, errar o pulo, ficar sensível ao toque, dormir muito tempo, etc.

Mas, seja paciente! Apesar de ser uma época em que o gato precisa da nossa compreensão e atenção de forma intensa, essa é também a fase da vida onde ele será ainda mais afetuoso. São anos muito especiais: não deixe de aproveitá-los intensamente!

*Texto elaborado com a colaboração da Dra. Ana Regina Torro. Mestre em homeopatia, com atuação em clínica veterinária, homeopatia e acupuntura. Professora de homeopatia. Clínica veterinária Colibri – torroanacarlos@terra.com.br.
Sites consultados:
http://www.catbehaviorassociates.com/caring-for-senior-cats/
https://www.avma.org/public/PetCare/Pages/Caring-for-an-Older-Pet-FAQs.aspx
http://www.petmd.com/cat/care/defining-senior-age-cats#
http://www.catster.com/forums/Senior_Cats/thread/708287
https://www.aspca.org/pet-care/cat-care/aging
http://pets.webmd.com/cats/guide/aging-cat-behavior
Livro:
Church, Chritine. House cat: how to keep your cat sane and sound. New Jersey: Howell Book House, 2005.